Michel Temer quis explicar a reforma da Previdência ao embaixador da Santa Sé no Brasil, o núncio apostólico Dom Giovanni d’Aniello
Por Felipe Frazão / Veja![]() |
Presidente Michel Temer e Dom Giovanni d'Aniello, núncio apostólico no Brasil e embaixador da Santa Sé - 30/06/2016 (Beto Barata/PR/VEJA) |
Com
interlocução fragilizada junto à Igreja, foi o
presidente Michel Temer quem convocou
para uma reunião no Palácio do Planalto, na quarta-feira pela manhã, o
embaixador da Santa Sé no Brasil, o núncio apostólico Dom Giovanni d’Aniello. O encontro se deu ao mesmo
tempo em que ocorria em Aparecida (SP) a 55ª Assembleia Geral da Confederação
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O governo
anda preocupado com oposição dos líderes católicos nacionais a seus projetos
reformistas.
Temer
interrompeu a agenda com deputados para receber em seu gabinete o representante
do Vaticano – e do Papa Francisco, que ainda não
aceitou convite do presidente para vir ao Brasil neste ano. O presidente fora
aconselhado por parlamentares de sua base aliada dois dias antes a buscar um
contato direto com o Vaticano, dada a resistência da CNBB às reformas
trabalhista e da previdência, a principal do governo.
Temer explicou
ao núncio apostólico detalhes da reforma da Previdência e
entregou a ele documento com dados em defesa do projeto aprovado na comissão
especial da Câmara dos Deputados. O discurso do governo é de que as mudanças
são necessárias e protegem a aposentadoria da camada mais pobre da população.
Na
sexta-feira anterior, padres e religiosos católicos, como as comunidades
eclesiais de base (um dos berços do petismo), marcaram presença nas marchas da
greve geral, inclusive na Esplanda dos Ministérios, em Brasília. No fim de
março, o Conselho Permanente da CNBB pediu mobilização social e criticou a
reforma da Previdência. Em nota oficial, o órgão disse que o projeto do governo
“escolheu o caminho da exclusão social” e que “nenhuma
solução para equilibrar um possível déficit pode prescindir de valores
éticos-sociais e solidários”, enquanto reforma travava a Previdência sob a
ótica “estritamente econômica”. Segundo os bispos, o governo discute a reforma
com base em informações “inseguras, desencontradas e contraditórias”.
“O debate não pode ficar restrito a uma disputa ideológico-partidária e
sujeito a influências de grupos dos mais diversos interesses”, diz a nota.
Logo
depois da visita de Dom Giovanni d’Aniello, a CNBB voltou à carga contra as
reformas e ainda criticou a degradação da política nacional e a corrupção –
desta vez sem citar governos, nem partidos, de forma indireta. A nota de
encerramento da Assembleia Geral da CNBB afirma que o Brasil é um “país
perplexo diante de agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão
dos princípios morais, base indispensável de uma nação que se queira justa e
fraterna”.
“O
desprezo da ética leva a uma relação promíscua entre interesses públicos e
privados, razão primeira dos escândalos da corrupção”, diz o texto. “O Estado
democrático de direito, reconquistado com intensa participação popular após o
regime de exceção, corre riscos na medida em que crescem o descrédito e o
desencanto com a política e com os Poderes da República cuja prática tem
demonstrado enorme distanciamento das aspirações de grande parte da
população… Intimamente unida à política, a economia globalizada tem sido
um verdadeiro suplício para a maioria da população brasileira, uma vez que dá
primazia ao mercado, em detrimento da pessoa humana e ao capital em detrimento
do trabalho, quando deveria ser o contrário.”
Em
entrevista à Rede TV!, Temer argumentou que apenas setores da Igreja e “parte
da CNBB” se opõem publicamente às reformas. O peemedebista também disse que já
havia se comprometido a enviar informações aos bispos e se conversado com
líderes como Dom Sergio da Rocha, Dom Odilo Scherer, Dom Cláudio Hummes e
Dom Damasceno Assis.
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